CAUSAS E ESPECIFICIDADES DA
INDISCIPLINA
Os teóricos apontam, para fins de sistematização, dois
grupos gerais de causas da indisciplina na escola: as causas externas à escola e as causas internas.
As causas externas à escola são:
·
a influência hoje exercida pelos meios de
comunicação;
·
a violência social; e
·
o ambiente familiar.
As causas internas
são:
·
o ambiente escolar e as condições de
ensino-aprendizagem;
·
os modos de relacionamento humano;
·
o perfil dos alunos e sua capacidade de se
adaptar aos esquemas da escola.
Assim, na própria relação entre professores e alunos estão
os motivos para a indisciplina, e as formas de intervenção disciplinar que os
professores praticam podem reforçar ou mesmo gerar modos de indisciplina.
Tendo clareza quanto à própria natureza da indisciplina,
cabe às escolas desenvolver uma política disciplinar institucional, que
especifique estratégias de prevenção e intervenção, tanto em nível da escola
como um todo quanto em nível de sala de aula em particular.
Os mesmos teóricos indicam quatro Pontos – chave para a
prevenção da indisciplina:
1. O primeiro
ponto a ser destacado refere-se à necessidade de as escolas desenvolverem uma diretriz
disciplinar de base pedagógica ampla, legitimada pela comunidade escolar, de
acordo com o seu projeto político-pedagógico. Tal diretriz deve incluir o
desenvolvimento de orientações (regras e procedimentos) disciplinares claras e
de base ampla, as quais ganham em legitimidade à medida que são desenvolvidas com
a participação dos estudantes, tornadas claras e conhecidas de toda a
comunidade envolvida com a escola. A participação dos alunos é um elemento
importante, pois favorece o sentimento de pertença e implica o exercício de
algum grau de poder sobre as disposições coletivas, bases na criação de um
senso de responsabilidade comum e um elemento de motivação (D’ANTOLA, 1989b). É
necessária, ainda, uma disseminação ampla destas orientações comuns, que
assegure que todos os estudantes, pais e profissionais da escola tenham claras
as expectativas sociais e pedagógicas que estarão sendo praticadas pela escola.
Em oposição ao enfoque autocrático, a abordagem democrática tende a oferecer
melhores resultados não apenas em termos das atitudes, mas também do envolvimento
e participação dos estudantes na escola (GORDON, 1999).
2. Outro elemento preventivo
relevante está no ambiente da escola (ABUD e ROMEU, 1989; VASCONCELLOS, 1995),
que deve ser verdadeiramente humano, no sentido de constituir um espaço democrático
onde se cultiva o diálogo e a afetividade humana, em que se pratica a
observação e garantia dos direitos humanos (constitucionais). Este clima
caloroso deve refletir um conhecimento e preocupação quanto aos estudantes
enquanto pessoas, tendo em vista suas condições concretas, individualidades e singularidades.
Na prática, se desejamos que a educação escolar represente mudança (FREIRE,
1991), deve-se cultivar uma postura – sobretudo entre os professores – de
interesse e compromisso pelas metas, realizações e problemas dos estudantes,
bem como de apoio às suas atividades curriculares e extracurriculares.
3. Um outro aspecto
refere-se ao papel da direção da escola. Parece particularmente importante que
esta seja “visível” e atue de modo a oferecer encorajamento e suporte a
professores e alunos. A visibilidade aqui considerada diz respeito à presença
constante da direção nos diversos espaços da escola, onde deve exercer, de modo
informal, relacionamentos com professores e estudantes, em nível pessoal e que
expresse interesse pelas suas atividades. Também é importante a relação formal
entre direção e corpo docente. Aos professores deve ser delegada
responsabilidade para lidar com as questões disciplinares de rotina; as
questões mais sérias devem ser tratadas em parceria com as pessoas ou grupo
responsáveis pela orientação disciplinar (pedagógica). É necessário, portanto,
que os professores desenvolvam e conquistem maior autonomia para lidar com a
indisciplina de sala de aula. Isto não significa deixá-los a sós com a indisciplina
de sala de aula, mas fomentar um trabalho em parceria, baseado em
responsabilidades claramente definidas e no auxílio estratégico em situações de
intervenção da equipe de apoio pedagógico.
4. Finalmente, é
preciso considerar a necessidade de estreitar as relações entre escola e comunidade.
O avanço disciplinar na escola parece requerer um alto nível de comunicação e
relações democráticas com as comunidades a que atendem (D’ANTOLA, 1989b;
GUIMARÃES, 1985). Entretanto, esta nem sempre é a realidade vivida pelas
escolas. Nesse sentido, uma meta ainda a ser atingida seria ampliar o grau de
envolvimento dos pais nas atividades para as quais são solicitados, seja nas
discussões pertinentes às questões pedagógicas como às atividades
extracurriculares ou mesmo de gestão, incluindo a questão da indisciplina. Para
isso, é fundamental manter a comunidade informada quanto às metas, realizações
e atividades escolares.
Há um quinto ponto que eu
aponto como estratégia preventiva da indisciplina: a elaboração e desenvolvimento
de projetos pedagógicos envolvendo as novas tecnologias, os quais vão atender
as necessidades da geração digital presente hoje nas escolas.
REFERÊNCIAS
AQUINO,
Júlio (Org.). Indisciplina na escola : alternativas teóricas e práticas. 2. ed.
São Paulo :
Summus, 1996a. 149 p.
D’ANTOLA, Arlette (Org.). Disciplina
na escola. São Paulo : E.P.U., 1989a. 90 p
D’ANTOLA,
Arlette. Disciplina democrática na
escola. In: D’ANTOLA, Arlette (Org.). Disciplina na escola. São Paulo :
E.P.U., 1989b. p. 49-59.
VASCONCELLOS,
Celso. Disciplina: construção da
disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 4. ed. São
Paulo : Libertad, 1995.
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