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Este blog tem por objetivo mostrar meu trabalho em sala de aula, trocar experiências com professores e alunos e receber sugestões metodológicas, exemplos de projetos pedagógicos, etc.

terça-feira, 14 de abril de 2015

sábado, 11 de abril de 2015


INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Professora Maria José Brandão Ramos (Mestra e doutoranda em Ciências da Educação; pedagoga, especialista em Supervisão escolar, graduada em Filosofia)
“O HOMEM: quem é ele afinal? Afinal, quem é o homem dentro da natureza? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um pouco intermediário entre tudo e nada. Infelizmente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve” (PASCAL).
“O que a Filosofia nos ensina é o risco de tomar por certo aquilo que devemos prestar atenção cuidadosa, bem como a possibilidade de descobrir, sob o prosaico, comum e rotineiro, um universo de extraordinária riqueza e variedade, diante do qual podemos somente nos maravilhar”
(Matthew Lipman – A Filosofia Vai a Escola)
Iniciar-se na Filosofia é abrir a alma para o mundo interior de nosso juízo, de nossa vontade e de nossas fantasias. Um mundo nem sempre fácil de se entender, porque é ambíguo, contraditório, imprevisível..., mas sempre fascinante. E, depois, com a alma aberta, olhar para o exterior e ver o que antes, por limites de olhares estreitos, não podia ser visto ou compreendido.
Entender as relações do homem consigo mesmo, com seus desejos, sonhos e emoções, as relações do homem com seus semelhantes e com o seu ambiente faz parte de um crescimento necessário, e a filosofia tem, sem dúvida alguma, um papel importante nesse despertar da consciência de um ser humano integral.
Na maior parte das vezes, mais do que dar respostas, o iniciar-se na filosofia o levará a questionar os caminhos nem sempre serenos de sua alma. Mas o mais importante não serão as respostas obtidas, e sim o ato de abrir-se para uma constante indagação. (SOUZA, 1995, p. 245)
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
1 FILOSOFAR? Do mito à razão
1.1 Conceitos de Filosofar
O verbo filosofar pode ser usado com três significados distintos:
 Como simples sinônimo de “pensar” – às vezes doenças ou morte de pessoas próximas, decepções, perdas irreparáveis e outros problemas existenciais nos fazem pensar (filosofar) sobre o sentido de nossa vida. Mas esse significado é por demais vago e amplo para caracterizar o verdadeiro sentido do filosofar.
 Como sinônimo de “saber viver” virtuosamente. Aqui, filosofar é viver com sabedoria. O sábio é aquele que se torna um exemplo vivo das virtudes apreciadas em uma sociedade e é tomado como ponto de referência para fortalecer o valor das tradições vigentes. É nesse sentido que as sabedorias orientais são também chamadas filosofias.
AURORA DA FILOSOFIA
NADA SURGE DO NADA
Um dia o homem levantou-se e começou a indagar: O que é isto? Quem sou eu? E você, quem é? Que mundo é este que nos rodeia? De onde ele veio? Como surgiu? Um dia ele surgiu. Num determinado momento da existência ele surgiu: nasceu a existência do ser. Em algum lugar, nalgum dia, surgiu a vida. Alguma coisa, algum dia deve ter surgido do nada. De onde tudo começou? Há de um dia tudo ter tido um começo... Tudo que existe teria tido um começo, sim. Nada existe sem um dia ter começado. Portanto, o universo, em algum momento, deve ter surgido de alguma outra coisa. Essa outra coisa também teria surgido de uma outra coisa. Seria isso possível? Ou seria possível que o mundo tivesse sempre existido? Ou teria ele sido criado por Deus, num determinado momento, num “piscar de olhos”? E Deus, quem O teria criado? Teria Ele se criado por si próprio? O certo é que tudo que existe teve um começo. E o fim? Há vida depois da morte?
Como podemos responder as estas indagações? E como devemos viver? Essas são perguntas que existiram em todas as épocas, em todos os tempos. Desde que o homem é homem ele se pergunta, ele se questiona. Todas as culturas fizeram e fazem estas indagações. A história da humanidade nos mostra diferentes respostas. De acordo com a época, durante toda a cronologia da história, as respostas vão surgindo conforme as civilizações. Difícil? Sim. Muito difícil. É mais fácil fazer perguntas filosóficas do que respondê-las. Só os filósofos têm ousadia para se aventurarem rumo aos limites da linguagem e da existência.
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 Como “o filosofar propriamente dito”, que teve início na Grécia, em torno dos séculos VI e V a. C. Por essa época, começou-se a repensar a natureza, o ser humano e as divindades com um olhar crítico. Procurava-se saber a validade dos próprios conhecimentos. Até que ponto a cultura era fruto de fantasias e crenças dos antepassados? O que garantia que as tradições recebidas dos anciãos eram verdadeiras? A Filosofia, portanto, questiona os fundamentos da cultura.
1.2 Mito x Filosofia
A civilização grega desenvolveu-se na península Balcânica, a mais oriental do sul da Europa, rodeada de inúmeras ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a formação de grupos humanos isolados e autônomos, como de fato foram as cidades (as polis). A pouca fertilidade do solo acidentado foi compensada pela presença de ótimos portos naturais. Assim, os gregos puderam desenvolver, com segurança, a navegação, que possibilitou o crescimento do comércio e, consequentemente, a riqueza crescente das Cidades-Estados. O aumento populacional levou à procura de terras férteis e à criação de muitas colônias nas regiões mediterrâneas. A fiscalização e a proteção dessas colônias eram tarefas da frota grega. Nos séculos VI e V a. C., as polis conheceram o apogeu econômico, político e cultural.
Foi exatamente nesse período glorioso que surgiu na cultura grega o confronto entre MITO e Filosofia. Tanto o mito quanto a filosofia são formas que o homem utiliza para explicar o mundo. São explicações que visam a responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, assim como justificar as normas que garantem a vida em comunidade. Ao buscar essas explicações, seja pela linguagem do mito, seja pela linguagem filosófica, o homem está tentando estabelecer a estrutura de sua cultura.
1.3 Autoridade do Mito
O mito é uma história religiosa revelada com autoridade supostamente indiscutível. O passado é descrito como as tradições que não admitem nenhuma
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crítica: “É assim, porque foi dito que é assim”. O texto a seguir nos fala um pouco sobre isso.
“O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do tempo. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, porque os personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civilizadores, e por essa razão as suas ações memoráveis constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se lhos não revelassem. O mito é, pois, a história do que se passou naquele tempo; a narração daquilo que os deuses ou os seres divinos fizeram no começo do tempo. ‘Dizer’ é proclamar o que se passou desde a origem. Uma vez ‘dito’, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. ‘É assim porque foi dito que é assim’, declara a tribo de esquimós, a fim de justificar a validade da sua história sagrada e de suas tradições religiosas”. (MIRCEIA ELIADE).
Durante um longo período da história grega, a mitologia constituiu a fonte exclusiva de explicação para a existência do homem e da organização do mundo. As interpretações imaginárias criadas por ela foram adquirindo autoridade pelo fato de serem antigas. As divindades constituíam as personagens que, pelas divergências, intrigas, amizades e desejo de justiça, explicavam tanto a natureza humana como os resultados das guerras e os valores culturais. Nesse sentido, a linguagem do mito esconde interesses de classes e pode ser manipulada por aqueles que detêm o poder. Ela impõe comportamentos morais à comunidade e uma hierarquia de punições para aqueles que não os seguem.
Em virtude do desenvolvimento e dos contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e da navegação, os gregos cultos sentiram necessidade de encontrar uma linguagem mais universal e rigorosa para justificar o universo e as próprias instituições. O mito parecia-lhes, cada vez mais, uma forma de expressão regional, particular, uma cristalização de interesses locais. Em sínese, o mito já não satisfazia às necessidades culturais da época. Surge, então, a linguagem filosófica, trazendo novos conceitos culturais, baseados na razão, que irão tentar substituir as criações míticas.
A tensão estava estabelecida. De um lado, os conservadores queriam manter o sistema explicativo do mito, muito mais popular e eficaz para preservar os seus privilégios. De outro, os filósofos, desejosos de mudança, rejeitavam as explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações dos membros das classes
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emergentes (os artesãos e os comerciantes), democratizando assim o sistema político. A tensão entre mito e filosofia começa, mas não termina na Grécia Antiga. Ela perpassa a história ocidental e continua de alguma forma, até hoje.
2 CONCEITO DE NATUREZA
Os primeiros filósofos gregos criaram um novo conceito de natureza. A natureza é o conjunto de tudo o que existe. A existência das coisas faz com que elas sejam cognoscíveis. A natureza como um todo também é cognoscível por si mesma. Não precisamos de intermediários para contemplar a sua existência. Ela se manifesta com uma evidência incontestável. É fonte de conhecimento irrefutável. Qualquer pessoa que se disponha a isso pode conhecê-la e interpretá-la.
Filosofar é, basicamente, admitir a realidade tal qual ela existe; é saber contemplá-la sem projetar nela temores míticos e crenças fantasiosas. Em fim, filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural e não como vingança ou ameaça divina; é saber ver o mar simplesmente como mar, a montanha como montanha, as estrelas como estrelas, a seca como seca, os fatos sociais e políticos como resultados das relações humanas.
Durante o período mítico, a natureza era vista pelas lentes das crenças. Com a Filosofia a natureza é despida de interpretações culturais, podendo manifestar-se com autonomia e por suas próprias leis. O filósofo deixa a natureza falar por si mesma. Por isso, a filosofia não é privilégio de uma casta que interpreta a revelação dos deuses; não depende de livros sagrados; não é uma doutrina oculta; dispensa ritos de iniciação ou penitências rigorosas. Essa nova maneira de lidar com a realidade foi o início da filosofia, que até hoje procura libertar o homem das crenças e temores desumanizantes.
3 O ASSOMBRO
E a Filosofia, de onde teria vindo? Como ela teria nascido? O assombro!!! O homem começou a se assombrar com as coisas ao seu redor: com os fenômenos da natureza; com os movimentos da lua, do sol e dos outros astros. Aristóteles afirma que os “homens começaram e começam a filosofar pelo assombro”. Diz que primeiro os “homens se assombraram pelas coisas estranhas que tinham mais à
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mão, e a seguir, ao avançarem pouco a pouco, pelas coisas mais graves como os movimentos da lua, do sol e dos outros astros, e, ainda, pela geração de todas as coisas”. Dessa forma, podemos dizer que temos como raiz mais concreta da Filosofia, o assombro.
No momento em que o homem começa a estranhar as coisas, fazendo assombradamente perguntas a respeito dessas coisas próximas; ao indagar: Que é isto? Neste momento nasce a Filosofia. Começa aí a história do pensamento. Precisar, porém, esse momento, é difícil. (...) Poder-se-ia considerar, talvez, os mitos e as lendas que nos chegaram como primeiras tentativas de explicação do mundo e de seus fenômenos (ABRÃO, 1999, p. 9). Mas, isso não seria o ideal. Gaarder, afirma [...] que uma forma completamente nova de pensar teria surgido na Grécia por volta de 600 a. C. Antes disso, todas as perguntas dos homens haviam sido respondidas pelas diferentes religiões. Essas explicações religiosas tinham sido passadas de geração para geração através dos mitos (GAARDER, 1995, p. 34 e 35).
4 O QUE É FILOSOFIA?
A palavra filosofia é atribuída a Pitágoras de Samos, composta dos dois elementos: filo (que significa amizade) e Sofia (que significa sabedoria), formadores de philosophia que significa amizade pela sabedoria, amor ao saber. Pitágoras teria dito que a sabedoria plena é privilégio dos deuses, cabendo ao homem apenas desejá-la, amá-la, ser seu amante ou seu amigo: filósofo. Platão, em Eutidemo (apud Abbagnano), define filosofia como o uso do saber em proveito do homem. Para Descartes, a palavra filosofia significa “o estudo da sabedoria, e por sabedoria, não se entende somente a prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode conhecer, tanto para a conduta de sua vida quanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes”.
Hobbes também se preocupa com o bem-estar do homem ao definir filosofia afirmando que, “por um lado, é o conhecimento causal e, por outro, a utilização desse conhecimento em benefício do homem”. Assim como Kant, em A Crítica da Razão Pura, que define o conceito cósmico da filosofia (o conceito que interessa necessariamente a todos os homens) como o de “ciência da relação do conhecimento à finalidade essencial da razão humana”. Também não é muito diferente da definição de Dewey, ao definir a filosofia como “a crítica dos valores”,
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referindo-se à crítica das crenças, dos costumes, das políticas no que concerne ao alcance sobre os bens. Esses exemplos são apenas para a percepção de que tudo (em definindo filosofia) remete à fórmula de Platão ao definir filosofia como “o uso do saber em proveito do homem”.
A respeito do uso do saber, ao qual o homem, de algum modo, tem acesso, ABBAGNANO coloca duas alternativas fundamentais que estabelecem distinção entre dois tipos diferentes e opostos de filosofia:
 A primeira estabelece a origem divina do saber, a qual traz para o homem, o saber, como uma revelação ou um dom.
 A segunda alternativa estabelece a origem humana do saber, onde ele é uma conquista ou uma produção do homem.
A primeira alternativa é a mais antiga e a mais frequente no mundo; a segunda surgiu na Grécia e foi herdada pela civilização ocidental. Ao longo da história, desde o seu surgimento até hoje, têm sido dadas duas interpretações para a filosofia:
 Uma é que a filosofia é contemplativa e constitui uma forma de vida que é fim em si mesma. Nesta, a filosofia exaure-se em quem filosofa.
 A outra interpretação é a de que a filosofia é ativa e constitui o instrumento de modificação ou de correção do mundo natural ou humano. Nesta interpretação a filosofia transcende o indivíduo e diz respeito às relações com a natureza e com os homens, portanto, com a vida humana social.
A filosofia como contemplação tem como objetivo, a salvação do homem; como atividade diretiva ou transformadora, a filosofia já está presente na lenda dos “Sete Sábios”, que foi citada pela primeira vez por Platão, conforme Abbagnano.
5 A FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA
5.1 Os Filósofos da Natureza
5.1.1Tales de Mileto - Atuou na primeira metade do século VI, na colônia grega de Mileto na Ásia Menor. Matemático, astrônomo e filósofo grego. Celebrizou-se por seus teoremas, suas observações astronômicas e confecção de um calendário, por suas indicações meteorológicas e por sua cosmologia. Segundo ele, “tudo é água”, estabelecendo a água como o princípio e a origem do universo. Assim ele achava,
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pelo fato de ser úmido o alimento e o sêmen dos animais e das plantas. Foi um homem que viajou muito. Sua origem talvez seja remotamente fenícia. Foi-lhe atribuída a introdução da geometria egípcia na Grécia. Dizem que certa vez no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da pirâmide no exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma medida de sua altura. Predisse um eclipse total do sol ocorrido em 28 de maio de 585 antes de Cristo.
Tales foi, portanto, uma grande figura da época. Achava que [...] a terra flutua sobre as águas e que, por outro lado, o mundo estaria cheio de espíritos ou almas e de muitos demônios; ou, como diz Aristóteles, “tudo está cheio de deuses” (MARÍAS, 1973, p. 35). A isto se deu o nome de hilozoismo (animação ou vivificação da matéria). Mas, o que é mais importante nisso é o fato de Tales, pela primeira vez na história da humanidade, considerar a totalidade de tudo o que existe não para perguntar sobre a origem mítica do mundo, e sim para indagar o que é, na verdade, a natureza. Há um abismo entre a teogonia1 e Tales: o mesmo abismo que separa a filosofia de toda a mentalidade anterior. Tales executava atividades de engenharia, astronomia, finanças e política; por isso foi incluído no grupo dos chamados “Sete Sábios da Grécia”2. Por que teria Tales escolhido a água (ou o úmido) como princípio (phýsis)?
Chauí, baseando-se nos autores que expuseram as opiniões de Tales, afirma que a escolha foi feita porque [...] a água apresenta-se sob as mais variadas formas e em todos os estado em que vemos os corpos da natureza: líquido, sólido e gasoso. [...] O fenômeno da evaporação faz pensar que a água é a causa do céu e do que nele existe; o fenômeno da chuva, que a água é a causa da terra e do que nela existe. A água está diretamente vinculada à vida: as sementes, o sêmen animal e humano, são úmidos.
[...] Tales viajou pela Egito e certamente se assombrou com as cheias do Nilo: a terra seca e desértica, antes da cheia, tornava-se fértil, verdejante, cheia de flores e frutos depois dela. (CHAUÍ, 2.002, p.56). A autora afirma ainda que Tales ao
1 Geração dos deuses e do mundo: cosmologia mítica.
2 Grupo dos ‘sete sábios da Grécia’: Cleóbolo de Líndos (viveu por volta de 600 a. C.); Pítago de Lesbos (viveu por volta de 600 a.C.); Sólon de Atenas (viveu por volta de 594/593 a.C); Quílon de Esparta (560 a.C); Periandro de Corinto (viveu entre 627 e 584 a.C); Tales de Mileto (viveu aproximadamente de 625 a 545 a.C); Bias de Priena (viveu no século VI a.C.). (Filosofia Ciência e Vida. Ano II, nº 14; p. 64-68).
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observar tudo isso, teria concluído que a “água é a causa das plantas”. Explica também que Tales teria sido levado a considerar que no início tudo era água e que a vida animal fora causada pela água, por saber da existência de fósseis de animais marinhos descobertos nas montanhas e em grandes altitudes. E mais, não seria estranho que Tales tivesse dado uma explicação racional para o que a mitologia grega falava do rio oceano que circundava toda a terra e que teria engendrado o nosso mundo.
A água ou o úmido, por ser o início de tudo é também o começo do devir, da mudança, do movimento. Ela tem movimento próprio: é automotora. A água transforma-se a si mesma em todas as coisas e transforma todas as coisas nela mesma. [...] Tales, como os demais membros da escola de Mileto, seria hilozoísta, explicando sua afirmação, segundo Aristóteles: “a água é a alma motora do kósmos” (Ibid.). Para Tales a água é o “deus inteligente” que faz todas as coisas e é a matéria e a alma de todas elas. Por isso a ele é atribuída a afirmação: “Todas as coisas estão cheias de deuses”.
Diante de tudo que vimos sobre Tales de Mileto, não nos interessa agora se ele estava cientificamente certo ou errado, mas devemos nos interessar pela maneira como ele raciocinava para fazer tais afirmações, pois é essa maneira que é propriamente filosófica. [...] Foi esse modo novo de raciocinar que o fez concluir que a água era a phýsis (princípio), isto é, ele deduziu e inferiu de fatos visíveis uma conclusão obtida apenas pelo pensamento ou pela razão (Ibid.).
5.1.2 Anaximandro - Viveu num período aproximado entre 611 a 549 a. C. Filósofo e astrônomo grego. Filho de Praxíades, também viveu em Mileto. Foi sucessor de Tales na direção da Escola de Mileto. Seu pensamento? Nem água, nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, limitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos. Acreditava não ser possível eleger uma única substância material como o princípio primordial de todos os seres (arché). Para ele esse princípio é algo que transcende os limites do observável. Afirmava que a terra tem a forma de um disco e que a essência do universo era um conjunto indeterminado contendo em si os contrários: todo nascimento era separação e toda morte era reunião desses contrários. À pergunta: Qual o princípio de todas as coisas?, responde: é o apeíron (que significa infinito, não no sentido matemático, mas no
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sentido de ilimitação ou de indeterminação). É conveniente que a entendamos como sinônimo de grandioso, ilimitado na sua magnificência, que provoca o assombro. É a maravilhosa totalidade do mundo, na qual o homem se encontra com surpresa.
O apeíron está em constante movimento e desse movimento resulta uma série de pares opostos como água e fogo, frio e calor, que constituem o mundo. Assim, o apeíron é algo abstrato que não está diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa maneira de conceber as coisas, Anaximandro segue a mesma linha de Tales, mas dando um passo a mais rumo à independência do “princípio” em relação às coisas particulares.
5.1.3 Anaxímenes de Mileto - É o último filósofo importante de Mileto. Viveu em meados do século VI a. C. Filho de Euristrato; é o meio-termo entre Tales e Anaximandro. Admite ser indeterminada a origem de todas as coisas, mas se recusa a atribuir-lhe o caráter oculto de elemento situado fora dos limites da observação e da experiência sensível. Tentando uma possível reconciliação entre as concepções de Tales e Anaximandro, conclui ser o arkhé3 que comanda o mundo, o ar (ou o sopro do ar) um elemento não tão abstrato como o apeíron nem palpável demais como a água. Ele diz que tudo provém do ar, através de seus movimentos; o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração; [...] o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas de ar. Tudo o que existe, mesmo apresentando qualidades diferentes, reduz-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento (Abrão – Os Pensadores, 1999, p.27). [...] E assim como nossa alma que é ar nos mantém unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo (Anaxímenes. Apud Cotrim, 2.000, p.79).
Talvez Anaxímenes acreditasse que a terra, o ar, o fogo e a água tivessem necessariamente que estar presentes para que a vida pudesse surgir. Mas, o ponto de partida propriamente dito era o ar. Ele compartilhava, portanto, da opinião de Tales, segundo a qual uma substância básica subjazia a todas as transformações da natureza.
Marías acrescenta que Anaxímenes tem uma importância maior, porque ele [...] não apenas designa uma substância primordial, mas explica como se
3 Arkhé – termo grego que significa: O que está a frente e, por isso é o princípio de tudo.
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produzem todas as coisas a partir dela: o ar rarefeito é fogo; mais condensado, nuvens, água, terra, rochas, segundo o grau de densidade. À substância primeira, suporte da variedade instável das coisas, junta-se um princípio de movimento. É neste momento que o domínio persa, na Jônia, vai empurrar a filosofia para o Ocidente (MARÍAS, 1973, p.37).
5.1.4 Pitágoras - Seguindo Anaxímenes vêm os pitagóricos, da Escola Pitagórica (que constituem o primeiro núcleo filosófico importante, depois da Escola Jônica), começando por Pitágoras (o culto da matemática). Para ele todas as coisas são números.
Quanto a sua vida alguns autores divergem (ou não deixam clara sua posição): COTRIM (2.000, p.80) diz que viveu aproximadamente entre 570 e 490 a C. Portanto, aproximadamente 80 anos; MARÍAS (1973, p.37) afirma que Pitágoras representa pouco mais que um nome, que pouco se sabe dele e, do pouco que se sabe, nada é seguro; CHAUÍ (2.002, p.67) relata que se sabe que Pitágoras nasceu em Samos, rival comercial de Mileto e que, conforme Diógenes de Laércio, seu ponto alto situa-se entre 540 e 537 a C.; Apolodoro (apud CHAUÍ) situa esse momento entre 532 e 531 a C. Ainda conforme Chauí, em mais ou menos 540 a C., com contínua invasão dos persas à Ásia Menor, Pitágoras deixou a Jônia e estabeleceu-se em Crotona – Magna Grécia – onde fundou sua escola filosófica, com tendência também religiosa e política, antes em Crotona e depois em Metaponto, aí falecendo em 497 a C., provavelmente. Sua doutrina era mantida em segredo pelos iniciados, que tinha como objetivo oferecer aos seus membros uma satisfação interior que a religião externa oficial, não lhes dava. Seu deus era Apolo Delfo (o espírito racional). Sua ordem foi politicamente ativa chegando a ter o poder em Crotona, mas este foi tomado pelo aristocrata Quílon, obrigando-o a abandonar Crotona; foi quando ele se dirigiu a Metaponto. Os autores afirmam que Pitágoras não deixou (ou não se conhece) escritos e que os escritos pitagóricos apareceram já nos séculos V e IV a C., mas que mesmo tardios servem de orientação para que se tenha alguma ideia do ensinamento do mestre.
Em seu pensamento, Pitágoras afirmou a transmigração das almas e a reencarnação. Considerava que a verdade chega aos homens por inspiração divina. Buscou a phýsis (princípio) e afirmou que esta é o número (arithmós). (...) Teria dito
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que há uma música universal e que não a ouvimos porque nascemos e vivemos em seu interior e não possuímos o contraste do silêncio que nos permitiria ouvi-la, ao recomeçar (CHAUÍ, 2.002, p.69). Afirmava também que a natureza numérica da phýsis (princípio) está presente em todas as coisas e na alma (psykhé).
Aristóteles afirma que os pitagóricos dedicaram-se às matemáticas fazendo-as avançar; tanto que acreditavam que o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas. (...) E como os números, são por natureza os princípios primeiros, (...) mais do que o fogo, a terra e a água, afirmaram a identidade de determinada propriedade numérica com a justiça, outra com a alma e o intelecto, e, assim todas as coisas estariam em relações semelhantes (Aristóteles, Metafísica, 1,5. Apud CHAUÍ, 2.002, p. 72). Aristóteles ainda explica que os pitagóricos supuseram que os elementos do número são os elementos de todas as coisas e que todo o universo é harmonia e número.
Para explicar a multiplicidade e o vir-a-ser, o pitagorismo recorre à luta dos opostos, pares e ímpares. Essa antítese4 é reconduzida à unidade pela harmonia matemática, que governa o mundo todo, material e moral.
A Escola Pitagórica contribuiu como vimos, nos campos da matemática (lembremo-nos do célebre Teorema de Pitágoras), da música e da astronomia; além de crenças místicas relativas à imortalidade da alma, à reencarnação dos pecados e à prescrição de rígidas condutas morais.
5.1.5 Xenófanes - Era de Colofonte, na Ásia Menor. Não se sabe ao certo (como em outros filósofos da antiguidade) a data exata do seu nascimento e da sua morte; sabe-se apenas que viveu pelo menos noventa e dois anos, e que era posterior a Pitágoras e anterior a Heráclito. Por ai pode-se concluir que viveu na segunda metade do século VI e na primeira metade do século V. a. C. É sabido que percorria a Hélade5 recitando poesias que, em geral, eram suas. Sua obra estava escrita em verso, que são elegias de caráter poético e moral em que, às vezes, se misturam esboços de doutrinas cosmológicas. Em Xenófanes o que foi considerado mais importante é, por um lado, a crítica que ele fez à religião popular grega, e, por outro
4 A antítese é o momento em que qualquer parte da realidade-pensamento excluída pelo momento anterior, é também afirmada.
5 Antigo nome da região hoje conhecida como Grécia.
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lado, um certo panteísmo6, precursor da doutrina da unidade do ser na Escola Eleática.
Xenófanes era orgulhoso de sua sabedoria que perecia ser superior à sua força ou à destreza física. Não aceitava a admiração prestada aos vencedores nos jogos, nas corridas, etc., porque achava que os deuses de Homero e Hesíodo eram imorais e absurdos, pois a única lição que deles se retirava era a de roubos, adultérios e mentiras. Ao mesmo tempo ele rebate o antropomorfismo dos deuses, dizendo que, [...] assim como os etíopes os concebe de nariz achatado e negros, os leões e os bois, se pudessem concebê-los, fá-los-iam com a figura de leão ou de boi (MARÍAS, 1973, p. 41). Por isso Xenófanes prega um único Deus. Eis aí os quatro fragmentos das suas sátiras referentes a este assunto:
“Um só Deus, o maior entre os deuses e os homens, não semelhante aos homens, nem pela forma, nem pelo pensamento. _ Vê tudo, pensa tudo, ouve tudo. _ Mesmo sem trabalhar, governa tudo pela força do seu espírito. _ Habita sempre no mesmo lugar, sem se mover, nem lhe convém deslocar-se dum lado para o outro”. (Diels, frag. 23-26. Apud MARÍAS, 1973, p.41).
Estes fragmentos significam: Há unidade divina fortemente evidenciada; e este deus é uno e imóvel, e enche todo o universo.
5.1.6 Heráclito de Éfeso (Da Jônia) - Viveu entre o VI e o V século antes de Cristo. Diz-se que era da família real de Éfeso e fora chamado a governar a cidade, mas renunciou para se dedicar à filosofia. Pode-se resumir a sua doutrina nos seguintes princípios:
 A essência da realidade é o vir-a-ser, o fogo, pois tudo muda, tudo está sujeito a um fluxo eterno;
 O vir-a-ser é luta, revezar-se de vida e de morte;
 Este vir-a-ser e esta oposição são reconduzidos à estabilidade e à unidade pela harmonia, pela sabedoria universais que determinam o acordo entre as oposições.
6 O termo panteísmo foi utilizado pela primeira vez por J. Toland (Socianimism Truly Stated, 1705); o primeiro a empregar o termo panteísmo foi seu adversário Fay (1709). É a doutrina segundo a qual Deus é a natureza do mundo identificando a causalidade divina com a causalidade natural. Uma das formas de panteísmo humanista é a chamada “teologia em Deus”.
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 “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir-a-ser” (Heráclito).
Conforme Chauí, filósofos posteriores e historiadores da filosofia referem-se a Heráclito como o mais extraordinário dos pré-socráticos. Os próprios gregos o cognominaram de: Heráclito, “o Obscuro”; Heráclito, “o fazedor de enigmas”. Heráclito está entre os jônios, porém escreve após Pitágoras e deixa supor que seria contemporâneo de Parmênides (seu sucessor). Dizia que “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição”. Heráclito imaginava assim a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
As diversas cosmologias que vimos até aqui despertaram na época uma nova questão: Por que tanta divergência? Por que tantas opiniões contrárias? Heráclito de Éfeso falava da luta dos contrários; para os pensadores da cidade de Eléia, os contrários jamais poderiam coexistir. Foi a partir daí que se iniciaram a lógica (estudos sobre o conhecer) e a ontologia (estudos sobre o ser) e suas relações recíprocas.
5.1.7 Parmênides - Filho de Pirus, é também da Escola Eleática. Nasceu em Eléia, na Magna Grécia, litoral oeste da Península Itálica, e viveu aproximadamente entre 515 a 440 a. C. Filósofo grego, fundador da Metafísica com sua distinção entre “o ser e o não-ser”. Seu slogan era: “O ente é; pois é ser e nada não é” (Parmênides). Tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Platão o chamava de Grande Parmênides. Defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade: o da filosofia, da razão, da essência; e o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa (que ele considerava a “via de Heráclito”). É tido como o filósofo mais importante entre os pré-socráticos. Significa, na história da filosofia, um momento de grande importância: a aparição da metafísica. A filosofia adquire, com Parmênides, a sua verdadeira hierarquia e constitui-se de forma rigorosa. A especulação grega até então, havia sido cosmológica, física, com um propósito e um método filosófico; mas é com Parmênides que se chega a descoberta do tema próprio da filosofia e do método segundo o qual se deve abordar. Com ele a filosofia chega a ser metafísica e ontologia. Ai o tema não é mais simplesmente “as coisas” e sim as coisas “enquanto são” (as coisas como entes).
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A grande descoberta de Parmênides é o ente. Começa com ele a filosofia sensu stricto7, e o pensamento metafísico até aos nossos dias conserva a marca que lhe imprimiu a mente de Parmênides. É provável que não tenha havido relações pessoais entre ele e Xenófanes, apesar de haver influências indubitáveis. Provavelmente tenha sido também influenciado pelo pitagorismo. Platão dedicou-lhe um diálogo, cujo título é “Parmênides”; [...] talvez o mais importante de todos os diálogos platônicos (MARÍAS, 1973, p. 42). Outro filósofo que lhe dedicou muita atenção foi Aristóteles.
Marilena Chauí diz que [...] Enquanto os milésios8 e Heráclito escreveram em prosa, Parmênides foi o primeiro filósofo a expor suas ideias em verso (CHAUÍ, 2.002, p. 88). Seu famoso poema, do qual restam alguns fragmentos, está escrito em hexâmetros (influência provável de Xenófanes) e é conhecido pelo título “Sobre a Natureza”, que compreende uma introdução de uma grande força poética e duas partes, uma sobre “a via da verdade” e a outra sobre a “via da opinião”. Conserva-se mais da primeira parte do que da segunda. Marías indica os momentos mais importantes do poema, onde escreve: [...] Num carro, arrastado por fogosos cavalos, marcha o poeta pelo caminho da deusa. Guiam-no as Filhas do Sol, que apartam os véus de seus rostos e deixam a morada da noite, guardada pela justiça. A deusa saúda Parmênides e diz-lhe que é preciso que aprenda a conhecer todas as coisas, “tanto o coração inquebrantável da verdade bem definida, como as opiniões dos mortais, que não se revestem de verdadeira certeza”. Diz-lhe, ainda, que só uma via pode ser tomada em consideração. Com isto termina a introdução. Há uma clara alusão à paisagem da consciência mítica à teorética9: As Filhas do Sol tiraram-no da obscuridade. A metáfora dos véus significa a verdade, compreendida na Grécia como um desvelar ou descobrir.
Na primeira parte do poema a deusa fala de duas vias; mas estas não são as duas que se mencionaram: a da verdade e a da opinião. Esta última será, em rigor, a terceira. As duas primeiras são duas vias possíveis sob o ponto de vista da
7 A filosofia no sentido restrito.
8 Os milésios foram os primeiros filósofos que filosofaram a partir de fatos não ligados a divindades ou a criaturas sobrenaturais
9 À contemplação (filosoficamente falando).
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verdade, das coisas enquanto são: a do que é e que é impossível que não seja (via da persuasão e da verdade) e a do que não é. Esta última via é impraticável, pois o que não é não se pode conhecer nem exprimir. E aqui se encontra a estreita vinculação do noûs e do ón do ente e da mente ou espírito da verdade. Segue-se, depois, o que poderíamos chamar a ontologia10 de Parmênides, isto é, a explicação dos atributos do ente que ele acaba de descobrir, mas isto requer uma explicação sistematizada.
A segunda parte do poema abandona a via da verdade para entrar na da opinião dos mortais. Os fragmentos dela são muito escassos. Constituem a interpretação do movimento, da variação, não do ponto de vista do noûs, nem portanto do ente, mas do da sensação e das coisas. A isto se juntam algumas indicações cosmológicas (MARÍAS, 1973,p. 42).
Segundo Parmênides o ente tem cinco principais predicados (esses predicados são descobertos pela primeira via, a via da verdade), são eles:
1º - O ón é presente – as coisas são, enquanto são, estão presentes no pensamento, no noûs. O ente não foi nem será senão o que é. As coisas podem está longe ou perto dos sentidos, presentes ou ausentes, mas como entes são imediatas ao noûs.
2º - Todas as coisas são entes, isto é, são. Permanecem envoltas pelo ser, permanecem reunidas, unas.
3º - Além disso este ente é imóvel.
4º - O ente é um pleno, sem vazios, é contínuo e indivisível.
5º - Por idêntica razão é indestrutível e incriado. O contrário suporia um não-ser, o que é impossível.
5.1.8 Zenão de Eléia - O que se move sempre está no mesmo agora (Zenão) - Era o discípulo mais importante de Parmênides – continuador direto da sua escola. Filho
10 Reconhecimento do ser mais elevado e perfeito, do qual provém todos os outros seres e coisas do mundo.
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de Teleutágoras, nasceu em Eléia. [...] Sua akmé11 reside na 79ª Olimpíada, portanto entre 464 e 460 a. C. (CHAUÍ, 2.002, p. 95). Elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.
Cotrim afirma que Zenão viveu entre 488 e 430 a C. Chauí diz ter nascido, aproximadamente, em 489 a. C. Marías afirma parecer ser uns quarenta anos mais jovem que Parmênides, e que a sua descoberta mais interessante é o seu método, a dialética12. Este modo de argumentar [...] consiste em partir duma tese aceita pelo adversário ou admitida vulgarmente, e mostrar que as suas consequências se contradizem entre si [...] que é impossível, segundo o princípio da contradição, implicitamente utilizado por Parmênides (MARÍAS, 1973, p. 45).
5.1.9 Empédocles - É de Agrimento, cidade de origem dórica, na Sicília; filho do aristocrata Metão. Viveu entre 492 e 432 a.C. Desfrutava de posição de destaque. Uns consideravam-no como um semi-deus, outros como um charlatão. Vagueava por toda a Sicília e pelo Peloponeso13, ensinando e fazendo curas. Era venerado por muitos. A tradição conta que, para ter um fim digno de sua divindade, ele se atirou pela cratera do Etna. Contudo, é mais provável que tenha falecido no Peloponeso.
Empédocles foi uma figura extraordinariamente viva e interessante. Além de fazer curas também era político, poeta, dramaturgo, homem de ciências, místico e inventor da eloquência. Foi expulso de Agrimento. Foi à Olímpia para ler seu poema religioso aos helenos.
(...) Empédocles sofreu a influência da religiosidade órfica (de Orfeu) e parece ter sido discípulo dos pitagóricos, assim como ter seguido, durante certo tempo, as ideias de Parmênides e Zenão, com quem teria convivido (Ibid.). Também escreveu versos, tendo sido o último filósofo a escrever em forma de verso, restando
11 Refere-se ao momento em que algo ou alguém chegou ao seu ponto mais alto de força e potência; indica o instante em que alguma coisa ou alguém encontrou seu momento oportuno para agir, para falar, para fazer alguma coisa.
12 Esse termo, que deriva de diálogo, não foi empregado, na história da filosofia, com significado unívoco, que possa ser determinado e esclarecido uma vez por todas; recebeu significados diferentes, com diversas inter-relações, não sendo redutíveis uns aos outros ou a um significado comum. Todavia, é possível distinguir quatro significados fundamentais: 1º - Dialética como método da divisão; 2º - Dialética como lógica do provável; 3º - Dialética como lógica; 4º - Dialética como síntese dos opostos. Esses quatro conceitos têm origem nas quatro doutrinas que mais influenciaram a história desse tempo, mais precisamente a doutrina platônica, a aristotélica, a estóica e a hegeliana.
13 Península da Grécia meridional (Moderna Enciclopédia de Pesquisa e Informações).
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dele o maior número de fragmentos deixados pelos pré-socráticos. Dos seus poemas são conhecidos fragmentos de dois: “Sobre a Natureza” (de cosmologia) e “Purificações” (religioso) que foram imitados por Lucrécio. Aristóteles (segundo Diógenes de Laércio, apud CHAUÍ) o teria considerado o fundador da retórica - da arte de persuadir por meio das paixões e emoções do ouvinte – (mas, Abbagnano – Dicionário de Filosofia – diz que a retórica foi a grande invenção dos sofistas, e Górgias de Leontini foi um de seus fundadores (século V a.C.)).
Dentro da cosmologia, os pontos mais importantes de Empédocles são: há dois sóis, um autêntico que é o fogo, e outro refletido, que é o que vemos. Assim se havia descoberto que a luz da lua é refletida, e o homem, como sempre, ampliava a sua descoberta. Pensou que a noite se produz pela interposição da terra entre o sol e a lua. Descobriu o verdadeiro sentido dos eclipses; as estrelas fixas e os planetas em movimento. A luz seria algo que vai de um lado a outro com grande rapidez.
Na biologia, Empédocles via que os seres são mortais, mas os seus princípios são eternos. A primeira coisa que surgiu na natureza foram as árvores. Chegou a suspeitar (vagamente) de que as plantas tinham sexo. Afirmava ser o calor principalmente masculino. Para ele os seres vivos produziram-se pela agregação de membros soltos, ao acaso, sobrevivendo os que estavam corretamente organizados. Cria na transmigração das almas e dizia a seu respeito: (...) Fui em tempos idos rapaz e rapariga, um arbusto e uma árvore, e um peixe mudo no mar (Empédocles). Ele tem também uma interessante teoria da percepção: “Há uma determinada adequação entre a sensação e o tamanho dos poros; por isso, para os diferentes sentidos os órgãos variam. As coisas são conhecidas por aquilo a que se assemelham: o fogo, se em mim se encontra o fogo, o mesmo acontece com a água e as coisas restantes”.
Mas, a questão central de Empédocles é o problema do ser das coisas. Aí, ele resolve o problema trazendo quatro elementos que, para ele são as raízes de todas as coisas. São elas: ar, fogo, água e terra. Estes elementos são opostos. Há neles as oposições do seco e do úmido; do frio e do quente.
Empédocles, apoiado em Parmênides, afirma que estas raízes são eternas. Mas, há uma diferença: é que o ente de Parmênides era uma esfera
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homogênea e não podia mudar. Em Empédocles também o ente é uma esfera, mas não homogênea: é uma mistura; todos os corpos compõem-se da agregação de substâncias elementares.
Empédocles, para explicar como a partir das quatro raízes se engendram e morrem todas as coisas, introduz mais dois princípios: amor e ódio. O ódio separa os elementos distintos, e o amor tende a juntá-los. Disto resulta já um movimento. Em certo sentido, o ódio é que junta, porque a união estabelece-se quando os elementos permanecem livres, unidos entre si os semelhantes. O amor autêntico é a tração do dessemelhante. Existem no movimento do mundo quatro períodos: 1º - a esfera misturada; 2º - o ódio que dá início à separação; 3º - o domínio do neîkos14, quando o ódio já tudo separou; 4º - regressa a philía15 (o amor) e começam as coisas a unir-se de novo.
Assim o ciclo se repete; e então se formam coisas que se unem de maneiras bastante diferentes – leões com cabeças de burro etc – das quais só sobrevivem e perduram as que têm um lógos16, uma ratio (ou uma razão), uma estrutura interna que lhes permitam continuar sendo. Mas, com isto, afirma Marías, [...] ainda não se explica o movimento sob o ponto de vista do ser. A ontologia do movimento, a física como filosofia, continua sendo impossível (MARÍAS,1973).
Vejamos agora alguns fragmentos de Empédocles (citação de CHAUÍ):
“Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e separação, mistura e dissociação dos elementos”.
14 Termo grego que significa: ódio, discórdia, disputa, querela, discordância, luta, combate, injúria.
15 Termo grego que significa: amizade, viva afeição, amor (sem idéia de sensualidade), sentimento de reciprocidade entre os iguais. O verbo philéo significa: sentir amizade por alguém, amar com amizade, tratar como amigo, ajudar, auxiliar, amar de coração, dar sinais de amizade, acolher com prazer; procurar, buscar, perseguir para encontrar; agradar-se com, ter agrado em; estar quite com, relacionar-se de igual para igual.
16 Termo grego – esta palavra sintetiza vários significados que, em português, estão separados, mas unidos em grego. Vem do verbo lego (no infinitivo: légein) que significa: 1º - reunir, colher, contar, enumerar, calcular; 2º - narrar, pronunciar, proferir, falar, dizer, declarar, anunciar, nomear claramente, discutir; 3º - pensar, refletir; ordenar; 4º - querer dizer, significar, falar como orador, contar, escolher; 5º - ler em voz alta, recitar, fazer, dizer. Lógos é: palavra, o que se diz, sentença, máxima, exemplo, conversa, assunto da discussão; pensar, inteligência, razão, faculdade de raciocinar; fundamento, causa, princípio, moivo, razão de alguma coisa; argumento, exercício da razão, juízo ou julgamento, bom senso, explicação, narrativa, estudos; valor atribuído a alguma coisa, razão íntima de uma coisa, justificação, analogia. Lógos reúne numa só palavra quatro sentidos: linguagem, pensamento ou razão, norma ou regra, ser ou realidade íntima de alguma coisa.
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“A um dado momento, do Uno saiu o múltiplo; por divisão – fogo, água, terra e ar altaneiro; e o Uno se formou do múltiplo. Ódio, temível, de peso igual a cada um, e o amor entre eles” (Simplício, Comentário da Física de Aristóteles).
“E assim como quando um homem se propõe a sair numa noite tempestuosa se mune de uma lanterna de chama viva, protegendo-a contra os ventos uivantes, e a luz projeta-se para fora das membranas protetoras, passando por seus poros, por ser muito mais sutil e fina, assim também o fogo primitivo escondeu-se em membranas finas e tecidos, atrás das redondas meninas-dos-olhos, varadas de passagens maravilhosas. Afastam-se as águas profundas que as cercam e deixam passar o fogo, por ser mais fino e sutil” (Teofrasto, Da sensação).
“O coração, nutrido do mar de sangue que corre em direções opostas, onde reside principalmente o que os homens chamam de pensamento. Pois para os homens, o sangue lhes flui à volta do coração, é o pensamento” (Teofrasto, Da sensação).
5.1.10 Anaxágoras - Era de Clazômenas, na Ásia Menor. Filho de Egesíbulos. Segundo Apolodoro (apud CHAUÍ), sua data de nascimento situa-se entre 500 e 496 a.C., e a de sua morte entre 428 e 427 a.C., com a idade 72 anos. Nasceu de uma família aristocrática, mas renunciou aos títulos políticos e aos bens para dedicar-se à filosofia. Iniciou seus estudos com os discípulos de Anaxímenes. Segundo os testemunhos de Platão e Isócrates, foi o primeiro filósofo a fixar-se em Atenas, onde chegou como amigo de Péricles (que foi seu aluno).
Anaxágoras, em Atenas, apesar de ter exercido grande influência e, a partir dele Atenas ter se transformado na segunda cidade filosófica da Grécia, teve suas ideias consideradas perigosas para o Estado, tendo sido por isso submetido ao tribunal e condenado por impiedade: destino semelhante ao de Sócrates e ao de Aristóteles. Há relatos divergentes sobre sua condenação. Há autores (MARIAS, por exemplo) que dizem que ele teria sido acusado, não se sabe bem do quê; não se sabe também ao certo a que o condenaram. Marías diz que parece que Péricles o libertou. Os atenienses troçavam dele e chamavam-no de noûs17. Não pôde continuar em Atenas, indo para Lampsaca, onde o receberam muito bem.
17 Ou nóos (termo grego) – Faculdade pensar, inteligência, espírito, pensamento, intelecto, reflexão, intenção racional, maneira de ver pelo pensamento, sentido racional de um discurso.
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Depois da difusão da filosofia pelo Oriente e pelo Ocidente, pela Ásia Menor e pela Grécia, instala-se principalmente e de uma maneira tardia, na própria Grécia, onde se localiza o seu principal centro. A influência de Anaxágoras não foi extrínseca ao seu pensamento, mas vinculou-se estreitamente a sua filosofia.
Para Anaxágoras não há quatro elementos, mas um número infinito deles. “Há de tudo em todas as coisas”. Ele denomina de Homeomerias as partes homogêneas, partículas pequeníssimas de que são feitas as coisas: partes que compõem um corpo e que são semelhantes a esse corpo. Se considerarmos uma coisa qualquer e a dividirmos, nunca chegaremos (afirma Anaxágoras, apud Marías) às raízes de Empédocles, porque mesmo na parte mais pequena de cada coisa, há partes pequeníssimas de todas as demais. [...] Mesmo que em cada corpo existam partículas ou grãos de todos os outros corpos, em cada um predomina certa espécie de partículas, que dá nome ao corpo (Aristóteles, apud Abbagnano, 2.003).
Marías indaga: como é então que se explica a formação das diversas coisas? E responde: pela união e separação das homeomerias. É um passo a mais nesta divisão do ente de Parmênides, a que vamos assistindo: [...] O ente é, primeiramente, posto em relação com o fogo que se move e muda (Heráclito); depois se divide nas quatro raízes de Empédocles, para explicar o mundo e o movimento, partindo delas. Agora é Anaxágoras que o fragmenta nas homeomerias. E não será esta a última etapa. As propriedades do ente conservam-se, e o movimento explica-se pela união e pela separação. Quem constitui as coisas em sua variedade é uma imanente inteligência ordenadora, isto é, o noûs, que distingue, recolhe e ordena as homeomerias similares, tirando-as do caos primordial em que estavam todas.
O conhecimento, segundo Anaxágoras, tem certos limites porque as homeomerias não são acessíveis aos sentidos. A sua ideia da percepção é contrária à de Empédocles: as coisas conhecem-se pelos seus contrários. São as duas teses opostas que se contrapõem nesta época.
Eis aqui alguns fragmentos de Anaxágoras:
“Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno é ilimitado. E enquanto todas as coisas estavam juntas, nenhuma delas podia ser
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reconhecida devida a sua pequeneza. O ar e o éter prevaleciam sobre as demais, ambos ilimitados, pois no conjunto de todas as coisas, estas (o ar e o éter) são as maiores tanto em quantidade quanto em grandeza” (Simplício, Comentário da Física de Aristóteles).
“Antes, contudo, de se separarem, quando todas as coisas ainda estavam juntas, nenhuma cor se podia distinguir, nem uma única. Pois a mistura de todas as coisas o impedia – a do úmido e do seco, do quente e do frio, do luminoso e do escuro, assim como também pela muita terra que nela se encontrava e pelas sementes em quantidade infinita, sem semelhança umas com as outras. Pois também nas outras coisas, nenhum é semelhante às outras. E se isto é assim, devemos supor que todas as coisas estão no Todo” (Simplício, Comentário da Física de Aristóteles).
5.1.11 Leucipo - É de Mileto. É fundador da Escola Atomista. Teve sua akmé por volta de 450 a. C. (APOLODORO, apud CHAUÍ). Suas preocupações são fundamentalmente cosmológicas. Suas obras? Há uma confusão: as obras de Leucipo foram compiladas juntas com as obras de Demócrito – um único corpo de doutrina reunido num conjunto de obras conhecido como da Escola de Abdera, no qual é difícil saber o que foi escrito por Leucipo e o que foi escrito por Demócrito. De acordo com Teofrasto, pode-se atribuir com segurança a Leucipo uma das obras denominada “Mégas Diákosmos” ou “Grande Ordenamento”; mas o restante das obras pode ser de um ou de outro, com exceção dos escritos éticos e técnicos, que são de Demócrito.
5.1.12 Demócrito (“O átomo como explicação da diversidade”) - Era natural de Abdera, na Trácia (460-370). É o maior expoente da Escola Atomista.
Divide o ser de Parmênides em uma infinidade de corpúsculos simples e homogêneos (os átomos), iguais pela qualidade e desiguais pela grandeza, forma, posição. Estes átomos estão no espaço vazio, onde se movem por causa do diverso tamanho e por causa da diversa gravidade dos átomos. Os átomos mais pesados caem, movem-se ab aeterno18 no espaço infinito mais rapidamente do que os menos pesados. Estes, portanto, entrando em choque com aqueles são arrastados em movimentos vorticosos. E, destarte originar-se-ia a variedade das coisas.
18 Expressão latina que significa: desde a eternidade; sempre.
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Conforme Cotrim, Demócrito distingue três fatores básicos para explicar as diferentes composições dos átomos.: 1 - Figura – A forma geométrica de cada átomo. Exemplo: forma de H ≠ forma de B. 2 – Ordem – A sequência espacial dos átomos da mesma figura. Exemplo: AB AB. 3 – Posição – A localização espacial dos átomos. Exemplo: B ≠ ω.
Para Demócrito é o acaso ou a necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível e determinado entre causas. As infinitas possibilidades de aglomeração dos átomos explicam a infinita variedade de coisas existentes.
[...] A principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à história do pensamento é a concepção mecanicista, segundo a qual “tudo que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade”. Isto é, “nada nasce do nada, nada retorna ao nada”. Tudo tem uma causa. E os átomos são a causa última do mundo (Cotrim, 2.000, p.85).
Com Leucipo e Demócrito encerra o período pré-socrático, também conhecido como período naturalista.
Vê-se, através da cronologia do pensamento grego, com os primeiros filósofos, os pré-socráticos, também chamados filósofos da natureza, por terem uma visão especulativa voltada para o mundo exterior (e aí vem o termo teorética), que nesse período denominado de pré-socrático (ou naturalista) o qual se desenvolveu do século VI a mais ou menos o século V a C., e que aconteceu fora da Grécia propriamente dita, nas florescentes colônias gregas da Ásia Menor (na jônia) e da Magna Grécia (na Itália do Sul), onde nasceu a civilização grega, predomina o problema cosmológico, buscando-se o arché ou seja, o princípio de todas as coisas, a origem do universo.
É importante também lembrar que em todo esse percurso, os pensadores, em sua incessante procura, divergiam (às vezes muito) em suas teorias cosmológicas. E, em meio a todas as divergências, o objetivo era saber de que as coisas se geravam e se acabavam, e/ou se formavam; como se engendravam e se feneciam.
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Dentro de um contexto mais propriamente histórico, observa-se que os gregos fundam colônias espalhadas pelo Mediterrâneo, provocando o surgimento de um comércio ativo e de uma indústria próspera, e a camada social envolvida nas atividades comerciais e industriais é responsável pela substituição da aristocracia pela democracia.
Surgiram ainda nesse período os primeiros legisladores gregos: Dracón, Sólon e Clístenes. E ainda aconteceu a fundação de Roma no século VI. E quais são as características da filosofia nesse período?
A filosofia desenvolve-se inicialmente nas colônias gregas da Jônia e do Sul da Itália peninsular e Sicília. Predomina nessa época o problema cosmológico, buscando-se o arkhé19. A physis20 torna-se o objeto de pesquisa e indagação. Os físicos da Jônia, também chamados de “fisiólogos”, são os primeiros filósofos gregos que tentam explicar a natureza material e o princípio do mundo e de todas as coisas por meio dos seguintes elementos: Água (Tales de Mileto); ar (Anaxímenes); apeíron (Anaximandro); devir ou vir-a-ser (Heráclito); homeomerias (Anaxágoras); átomo (Demócrito e Leucipo); número (Pitágoras); movimento (Zenão); fogo, terra, água, ar (Empédocles); ser (Parmênides); deus único (Xenófanes).
Os autores afirmam que os filósofos pré-socráticos, são assim chamados não pelo fato de terem vivido antes de Sócrates (470-399), mas por terem discutido temas que Sócrates praticamente desconsiderou ou até rejeitou. Sócrates, por exemplo, não deu importância à cosmologia; preocupou-se, em toda sua vida filosófica, com o homem, enquanto que os pré-socráticos preocupavam-se em mostrar um princípio único para o cosmos. Seu desejo era ver e seguir a phýsis (hoje diríamos, a natureza).
Ghiraldelli Jr. Afirma que historiadores da filosofia, inspirados em Heidegger, dividiram os pré-socráticos em: jônios e eleatas. O principal objetivo dos jônios seria a construção de uma cosmologia. Dos eleatas, seria fazer ontologia (parte da metafísica que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais).
19 Esta palavra (grega) possui dois grandes significados principais: 1- o que está à frete e por isso é o princípio ou o começo de tudo; 2 – o que esta à frente e por isso tem o comando de todo o restante.
20 Natureza (palavra grega). O elemento primordial eterno, ou seja, a natureza eterna e em permanente transformação.
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Inicia-se então o período socrático, ou período sistemático (do clássico ao grego-romano), que tem como protagonistas os principais mestres da arte da argumentação: Protágoras, Górgias, Sócrates, Platão e Aristóteles.
6 CONHECIMENTO
6.1 Conceito
Os animais conhecem as coisas; já o homem, além de conhecer, investiga-lhes as causas. [...] o homem conhece e pensa; elabora o material de seus conhecimentos (RUIZ,1996, p. 90. Apud RODRIGUES, 2006). O conhecimento possui três elementos: o sujeito (o ser humano); o objeto (o mundo exterior ao sujeito); e o conceito (a representação e a explicação do objeto elaborado pelo homem).
6.2 Sujeito e Objeto do Conhecimento
Os seres vivos têm potencialidades que se desenvolvem segundo suas necessidades de sobrevivência. Assim, a planta colocada no canto da sala, em lugar de crescer em linha reta, para cima, cresce em ângulo inclinado, à procura da luz vinda da janela. Ela adapta-se à condição do maio. Por motivo semelhante, as minhocas não têm olhos, mas são dotadas de olfato e tato muito apurados, necessários no ambiente onde vivem. As aves em geral não precisam de tato e olfato no ambiente aéreo; possuem em compensação, uma visão muito aguda, com um mecanismo de filtragem de cores que lhes permite distinguir a uma longa distância um inseto na relva verde. O cego, por exemplo, tem o tato e a audição muito mais desenvolvidos que qualquer homem com a visão normal.
Em todos esses exemplos, percebe-se uma adaptação de organismos vivos às imposições do meio. Além das características comuns aos seres vivos, o homem possui a capacidade especial de pensar, o que lhe possibilita não apenas conviver com a realidade, como também conhecê-la. Conhecer a realidade significa compreendê-la e explicá-la. O conhecimento humano tem dois elementos básicos: um sujeito e um objeto. O sujeito é o homem, o ser racional que quer conhecer (sujeito cognoscente). O objeto é a realidade (as coisas, os fatos, os fenômenos) com que coexistimos. O homem só se torna sujeito do conhecimento, quando está diante do objeto a ser conhecido. A realidade só se torna objeto do conhecimento perante um sujeito que queira conhecê-la. O próprio homem pode ser objeto do conhecimento humano. (Texto de CORDI e outros, 2002, p.31).
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6.3 Tipos de Conhecimento
Há quatro principais tipos de conhecimento: conhecimento vulgar ou popular (senso comum: subjetivo, assistemático, superficial, acrítico, falível, ametódico); conhecimento teológico (baseia-se no estudo de Deus: inspiracional, sistemático, não verificável, acrítico, infalível); conhecimento filosófico (é um constante indagar, cujas respostas se tornam objeto de novas indagações: crítico, racional, sistemático, não verificável, geral); conhecimento científico (produzido pela investigação científica, por meio de seus métodos e de suas técnicas).
6.4 Principais Teorias do Conhecimento
Ao longo da história, deram-se várias explicações para a construção do conhecimento a partir do encontro sujeito-objeto. Algumas privilegiaram a ação do sujeito sobre o objeto; outras, a ação do objeto sobre o sujeito, outras, ainda, a ação conjunto do sujeito e do objeto. Quase todos os filósofos reconhecem ao menos duas formas de conhecimento:
 Sensível, em que predomina a atividade dos sentidos e;
 Intelectivo, em que predomina a atividade do intelecto.
Resulta, então, que as três explicações anteriores devem ser multiplicadas por dois. Assim, podemos explicar o processo do conhecimento de seis maneiras diferentes, pelo menos. Apresenta-se a seguir um breve apanhado de como alguns filósofos, ao longo do tempo, explicaram esse processo. Na Antiguidade destacam-se as teorias de Platão e Aristóteles. Ambos descrevem o homem como um conjunto corpo-alma, no qual o corpo é o exterior, o sensível, e a alma é o interior, o não-sensível.
Segundo Platão (427-347ª. C.), para conhecer algo, para buscar a verdade, é preciso ir além das sensações imediatas. É necessário atingir a essência do objeto a ser conhecido, é mister conhecê-lo tal qual ele é. E isso só pode ser feito pela alma do homem, pelo seu interior. Para melhor fazer entender sua teoria, Platão cria “O Mito da Caverna”, em que imagina a existência de dois mundos: o mundo das ideias inundado pela luz do sol, e o mundo sensível, formado pelas sombras dos objetos reais, como que projetados nas paredes de uma caverna escura.
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O mundo das ideias é habitado pelos objetos reais, do qual o mundo sensível é mera aparência. O conhecimento sensível, produzido pelos sentidos, é dado pelos objetos que povoam o mundo material e que aparentam ser reais. Por isso, o conhecimento sensível é enganoso. Nele habitam os preconceitos, o senso comum, as tradições. O conhecimento intelectivo (verdades absolutas), produzido pela alma, é dado pelas essências puras, os objetos reais, habitantes do mundo das ideias.
Esses dois mundos criados por Platão simbolizam as maneiras como o homem pode adquirir o conhecimento: contentando-se em manter-se dentro da caverna observando as sombras refletidas nas paredes, isto é, aceitando o mundo sensível cuja verdade é aparente, ou saindo da caverna em busca da luz, dos objetos reais, da verdade.
Para Aristóteles (384-322 a. C.), os dados iniciais do conhecimento são originários dos objetos sensíveis. Estes são captados pela capacidade sensitiva da alma, exercida pelos cinco sentidos externos (visão, audição, olfato, tato e paladar) e pelos três sentidos internos (senso comum, memória e fantasia). A alma possui também capacidade intelectiva, exercida por meio da abstração, do juízo e da argumentação. É a capacidade abstrativa do intelecto que, a partir das características essenciais dos objetos sensíveis, constrói na alma os conceitos universais, que constituem a ciência, o conhecimento.
Portanto, para Aristóteles, o conhecimento inicia-se no objeto, com suas características sensíveis, apreendidas pela alma sensitiva. O que, porém, elabora o conhecimento verdadeiro – a ciência – é a alma, que capta a essência dos objetos. Diferentemente de Platão, Aristóteles considera que as essências estão no próprio objeto e não num mundo à parte.
Alguns séculos depois, no final do período medieval, Guilherme Ockham (1290-1349), opõe-se a Aristóteles ao afirmar que o conhecimento humano é intuitivo, imediato, e se dá exclusivamente a partir do contato do sujeito com objetos singulares, individuais. Os objetos, na sua individualidade, são “notados” de forma imediata pelo sujeito. O conhecimento imediato dos objetos é um conhecimento intuitivo-sensitivo, produzido pelo objeto no sujeito. O intelecto, contudo, é capaz de construir um conceito universal, que em si mesmo é um singular, mas que, por função e por definição, representa muitos singulares. Por exemplo, pode construir o conceito de “homem”, que, embora sendo singular (o gênero humano), pode acolher
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em si cada indivíduo do gênero humano. O conhecimento intelectivo é construído pelo intelecto do sujeito, até mesmo independentemente do contato ou existência dos objetos sensíveis, como o demonstram a imaginação e a fantasia.
George Berkeley (1685-1753), já no período moderno, rejeita qualquer ação efetiva do objeto sobre o sujeito na construção do conhecimento humano. Afirma que existir é ser conhecido. Ou seja, as coisas que existem não podem provocar o conhecimento, pois são passivas e inertes. É o intelecto do sujeito que, em contato com os objetos, produz o conhecimento. Admite, no entanto, que nem tudo o que conhecemos é produto puro do intelecto, pois características dos objetos às vezes se impõem. Este conhecimento, porém, não é gerado pelo objeto. É provocado por Deus, criador de todas as coisas e autor da extensão, da figura e movimento que os objetos carregam.
Immanuel Kant (1724-1804) diz que o conhecimento é composto de forma e matéria. A forma é um elemento a priori, isto é, já existente no sujeito (homem) antes do contato deste com o objeto. Para o conhecimento sensível, os elementos formais, sempre presentes à consciência do homem, são o espaço e o tempo. O conhecimento intelectivo se dá pelas doze categorias, isto é, pelas doze “formas de aparição” da realidade, a saber: unidade, multiplicidade e totalidade (indicativas da quantidade); ser, não-ser e limitação (indicativas da qualidade); substância-inerência, causalidade-dependência e comunhão-reciprocidade (indicativas da relação); possibilidade-impossibilidade, realidade-irrealidade e necessidade-contingência (indicativas da modalidade). A matéria é o elemento a posteriori, isto é, baseado na experiência, e é provido pelos objetos. Desse modo, o conhecimento sensível acontece quando o objeto na sua materialidade é percebido pela nossa consciência como temporal e espacial. O conhecimento intelectivo ocorre quando o objeto é percebido como quantidade, qualidade, relação e modalidade.
George Wilhelm Hegel (1770-1831) afirma que o racional é real e que o real é racional. Ou seja, realidade e pensamento são a mesma coisa. O conhecimento da realidade é construído pelo sujeito, capaz de, pelo pensamento, perceber o eterno devir da realidade-pensamento. O método adequado para a percepção da realidade-pensamento é a dialética, que se desenvolve em três momentos: tese, antítese e síntese. Consideremos que a realidade-pensada “transporte por carroças puxadas por cavalos” era uma tese, um conhecimento válido para o transporte, que excluía, por exemplo, a possibilidade de “transporte por
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veículo automotor”. Quando se propôs “transporte por veículo não puxado por cavalos”, lançou-se uma antítese, uma contraposição. Dali poderia ter surgido qualquer nova realidade-pensada. Surgiu “transporte por veículo automotor”, uma síntese, que por sua vez será uma tese (uma realidade pensada como válida), até que a ela se oponha outra antítese.
Dessa forma, a tese é o momento da realidade-pensamento em si mesma, isto é, a afirmação da validade de uma parte da realidade-pensamento, e a consequente negação de outras partes. A antítese é o momento em que qualquer parte da realidade-pensamento excluída pelo momento anterior, é também afirmada. A síntese é o momento de união entre as duas possibilidades de realidade-pensamento anteriores. O processo tese-antítese visa a eliminar as imperfeições das duas possibilidades anteriores e conservar, agora juntos, os elementos positivos ali encontrados. A nova posição se colocará então como tese... e o ciclo novamente se fará, aumentando gradativamente o conhecimento do sujeito a respeito da realidade. Esse ciclo é otimista; propõe que novos conhecimentos melhorem sempre a ação humana.
Modernamente, duas teorias chamam atenção para a relação integrada entre sujeito e objeto, na produção do conhecimento: a teoria psicogenética, de Jean Piaget (1896-1980), e a teoria fenomenológica, de Edmund Husserl (1859-1938). Segundo Jean Piaget, o contato inicial com o objeto se dá por meio da percepção do sujeito. A percepção é uma experiência dupla: por um lado, depende das características do estímulo que vêm do objeto e que ativam os sentidos. Por outro lado, das experiências sensoriais, afetivas, racionais, sociais, etc., já vivenciadas pelo sujeito. Tais experiências constroem no sujeito a capacidade para dar significação a objetos que, por si mesmos, são fixos, estáveis e ordenados segundo leis físicas próprias. Um exemplo que pode ajudar a entender isso é o que ocorre com o bebê, acostumado a mamar no peito da mãe, ao receber a primeira mamadeira. Nesse momento ele é estimulado pelo contato físico com o novo objeto (a mamadeira) e age sobre ele para se adaptar, uma vez que não é possível lhe dar uma explicação técnica sobre o ato de mamar. Ao fazer isso, o bebê está reorganizando os conhecimentos já adquiridos sobre o ato de sugar (talvez seja necessário fazer mais força, abrir mais a boca) e incorporando novos dados referentes à experiência.
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O conhecimento constrói-se, então, pela atividade do sujeito sobre o objeto, dando a este propriedades e relações novas. Ainda que estimulada a partir do contato sensível com o objeto, a percepção inclui elementos intelectuais anteriores, pertencentes ao sujeito, pois transita do nível sensorial para o nível das significações, pela atividade intelectual do sujeito cognoscente. O conhecimento é, portanto, uma experiência pessoal, uma vez que, diante do mesmo objeto, sujeitos distintos se apresentariam com experiências distintas, que ensejariam a construção de conhecimentos diferenciados.
Edmund Husserl, por sua vez, afirma que há diferenças entre o objeto e “aquilo que aparece do objeto” para o sujeito. O objeto (real ou ideal) que aparece à consciência de um sujeito é o fenômeno. Fenomenologia é o método pelo qual podemos descrever os fenômenos. Em sua teoria fenomenológica, Husserl explica que o conhecimento resulta de três momentos:
1) o sujeito sai de si e entra na esfera do objeto;
2) o sujeito capta as características apresentadas pelo objeto (o fenômeno), como algo fora do sujeito e, por conseguinte, desprovido ainda de qualquer interpretação que o sujeito lhe possa dar;
3) o sujeito retorna a si, trazendo as características captadas do objeto, reproduzindo-as em si na forma de imagem. O objeto permanece aquilo que era. O sujeito, entretanto, mostra-se agora modificado pela imagem do objeto que nele nasceu. Neste primeiro contato, todavia, o sujeito tem apenas a imagem do objeto, chamada consciência direta ou de primeiro grau. Não tem ainda consciência do próprio conhecimento. É necessária uma segunda atividade, a atividade reflexa ou de segundo grau. Nesta, a imagem do objeto é inserida no conjunto significativo já possuída pelo sujeito e recebe um sentido, um significado. O segundo grau de atividade, a consciência reflexa, prepara o sujeito para agir em relação ao objeto. Conhecer é, portanto, atividade de um sujeito para um objeto. Resume-se no ato pelo qual o sujeito capta um fenômeno, dele faz uma imagem e dá a esta imagem uma significação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CIVITA, Fundação Victor. Nova Escola: Grandes Pensadores, vida e obra de educadores que fizeram história, da Grécia Antiga aos dias de hoje. Edição especial, volume 2. São Paulo. Editora Abril, 2.006.
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RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia Científica: completo e essencial para a vida universitária. São Paulo: Avercamp, 2006.
SÁTIRO e WENSCH, Angélica e Ana Miriam. Pensando Melhor: iniciação ao filosofar. Editora Saraiva. São Paulo, 1.997.
SOUZA, Sônia Maria Ribeiro. Um Outro Olhar: Filosofia. FTD: São Paulo, 1995.
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GLOSSÁRIO
DEVIR (ou vir-a-ser) – Uma forma particular de mudança, a mudança absoluta ou substancial que vai do nada ao ser ou do ser ao nada (conceito de Aristóteles eHegae.
MAIÊUTICA – Arte da parteira; em Teeteto de Platão, Sócrates compara seus ensinamentos a essa arte, porquanto consistem em dar à luz conhecimentos que se formam na mente de seus discípulos: “Tenho isso em comum com as parteiras: sou estéril de sabedoria; e aquilo que há anos muitos censuram em mim, que interrogo os outros, mas nunca respondo por mim porque não tenho pensamentos sábios a expor, é censura justa’(Teeteto,15c).

quinta-feira, 9 de abril de 2015

AURORA DA FILOSOFIA






NADA SURGE DO NADA

Um dia o homem levantou-se e começou a indagar: O que é isto? Quem sou eu? E você, quem é? Que mundo é este que nos rodeia? De onde ele veio? Como surgiu? Um dia ele surgiu. Num determinado momento da existência ele surgiu: nasceu a existência do ser. Em algum lugar, nalgum dia, surgiu a vida. Alguma coisa, algum dia deve ter surgido do nada. De onde tudo começou? Há de um dia tudo ter tido um começo... Tudo que existe teria tido um começo, sim. Nada existe sem um dia ter começado. Portanto, o universo, em algum momento, deve ter surgido de alguma outra coisa. Essa outra coisa também teria surgido de uma outra coisa. Seria isso possível? Ou seria possível que o mundo tivesse sempre existido? Ou teria ele sido criado por Deus, num determinado momento, num “piscar de olhos”? E Deus, quem O teria criado? Teria Ele se criado por si próprio? O certo é que tudo que existe teve um começo. E o fim? Há vida depois da morte?
Como podemos responder as estas indagações? E como devemos viver? Essas são perguntas que existiram em todas as épocas, em todos os tempos. Desde que o homem é homem ele se pergunta, ele se questiona. Todas as culturas fizeram e fazem estas indagações. A história da humanidade nos mostra diferentes respostas. De acordo com a época, durante toda a cronologia da história, as respostas vão surgindo conforme as civilizações. Difícil? Sim. Muito difícil. É mais fácil fazer perguntas filosóficas do que respondê-las. Só os filósofos têm ousadia para se aventurarem rumo aos limites da linguagem e da existência.